Joám Evans Pim: "Os restos dos sistemas pré-romanos de escrita sobreviveram até os nossos dias"

Professor Joám Evans Pim

O professor Joám Evans Pim é entrevistado no web do Congresso Internacional "Os Celtas da Europa Atlântica". O académico da AGLP participará nesse prestigiado encontro no dia 16 de abril apresentando a ponência "Da fala e da escrita: perspetivas evolutivas".

Professor Joám Evans Pim

Web do Congresso Internacional "Os Celtas da Europa Atlântica"
entrevista ao professor Joám Evans Pim, académico da AGLP

IGEC - O etnógrafo e o antropólogo Joám Evans Pim será outro dos convidados ao III Congreso Internacional da Cultura Celta. A sua ponência "Da fala e da escrita: perspetivas evolutivas" tenta achegar o sustrato pre-romano que subjaz na identidade galega.

O teu relatório atinge as perspetivas evolutivas da fala e da escrita... Como influem estas na cultura e a identidade da Galiza?

A comunicação pretende revisar as próprias noções de fala e escrita desde uma perspetiva evolutiva, questionando ideias frequentes como são a depedência da escrita (e sua posterioridade) a formas de linguagem oral... Isto é, que a escrita supõe uma transcrição da oralidade. Propõe-se uma visão distinta da escrita que invalida a proposição de que as sociedades pré-romanas do espaço galaico eram essencialmente ágrafas e apontam-se os prováveis (e esquecidos) restos "epigráficos" vivos dessa cultura, que devem ser prezados e conservados como parte da nossa identidade.

Precisamente, abordarás os cantares ao desafio como um exemplo de vestígios de práticas culturais pré-romanas. Poderias por algum exemplo?

Os cantares ao desafio, em boa parte da Galiza conhecidos como "regueifa" -- uma das suas modalidade mais populares --, remontam-se possivelmente aos inícios da expressão simbólica humana, servindo a função essencial de promover espaços liminares para a ritualização dos conflitos. Estas práticas, similares às que a etologia apresenta entre outras espécies, constituem mecanismos para a prevenção e minimização da agressividade potencialmente letal entre indivíduos e comunidades.

Na Galiza, formas como a regueifa têm sido extremamente recorrentes em casamentos mas também em trabalhos comunais (como evidenciam os "brindes" ou "loias" do oriente do país). Nestas juntanças as tensões existentes na comunidade ou entre comunidades eram abordados publicamente sob umas regras claras que impediam a agressão direta.

Pervivência de marcas

E, que relação há entre os sistemas tradicionais de marcas de propriedade e a cultura pré-romana na Galiza?

Durante muito tempo tem-se defendido que as culturas pré-romanas do espaço galaico eram essencialmente ágrafas. Hoje sabemos que não é certo, e que, aliás, restos dos seus sistemas de escrita sobreviveram até os nossos dias. Os sistemas de marcas tradicionais têm na Galiza exemplos numerosos e bem preservados: desde as marcas dos marinheiros da Guarda até as dos labregos de Múrias de Rao, passando pela extensa presença de marcas de árvores em grande parte do nosso território.

Estas marcas são uma forma de escrita não-linguística, mais ligada com a mnemotecnia, genealogia e as práticas mágicas, presentes em manifestações de outros territórios do Atlântico como são as escritas ogâmicas ou rúnicas.

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