Português da Galiza no FLiP 8

Ângelo Cristóvão

Ângelo Cristóvão (*)

Desde 1 de agosto está à venda a oitava atualização do reconhecido programa FLiP, da empresa Priberam Informática, com sede em Lisboa. Como novidades destacadas, a nova versão permite o seu uso com o pacote de programas OpenOffice, introduz o Dicionário Priberam e outras variedades nacionais da língua.

Além das tradicionais de Portugal e do Brasil também aparecem as de Angola, Cabo Verde, Galiza, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, São Tomé e Timor.

Duas observações devem ser feitas num primeiro momento. Por um lado, há um efeito simbólico ao aparecerem, na opção de configuração, as bandeiras desses países entre as “variedades de português”. Por outro, representa uma mudança na forma de perceber a língua. Onde antes eram reconhecidos dous atores principais, agora abre-se a porta, definitivamente, à diversidade, o que não porá em risco a unidade da língua. Estas novas opções inscrevem-se dentro do português europeu, o que obedece à história.

Os leitores atentos sabem que estas mudanças têm muito a ver com a aplicação do Acordo Ortográfico de 1990, em que participou uma Delegação de Observadores da Galiza. Com efeito, é o contexto em que se está a criar esta nova forma descentralizada de conceber o português. Poderia dizer-se também que a Priberam não quer ficar à margem da evolução da língua. O FLiP 8, ao integrar novas variedades, aproxima-se dos mercados destes países, entre os quais uma potência africana emergente como Angola. Por outro lado, a simbiose do FLiP com o pacote Office da Microsoft facilita também o reconhecimento e divulgação dessas variedades da língua comum.

Captura de ecrã do FLiP 8

Captura de ecrã do FLiP 8, com a variedade galega no menu de opções

A inclusão de léxico da Galiza no FLiP 8 responde ao trabalho da Comissão de Lexicologia e Lexicografia da Academia Galega da Língua Portuguesa, entidade criada em 20 de setembro de 2008, e cujo Léxico da Galiza, com mais de 1200 entradas, está a ser integrado em vocabulários e dicionários de uso geral. O Protocolo de Cooperação assinado com a Priberam implica que mais conteúdos diferenciais do português galego serão acrescentados à língua comum através dos produtos desta empresa.

O reconhecimento da Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras, a participação em eventos internacionais, assim como as relações estabelecidas nos últimos 12 meses com mais de 20 instituições de todo o espaço lusófono, são o principal aval à atuação da AGLP, que vai ocupar o lugar de destaque que lhe corresponde na elaboração da norma galega do português, e na representação do nosso pais no âmbito académico internacional.

As importantes novidades produzidas pelo reintegracionismo linguístico nos últimos anos, e a multiplicação das suas atividades em todos os âmbitos da sociedade galega, são um sintoma claro da sua capacidade e maturidade, demonstrando a cada passo estar em condições de adquirir um maior protagonismo, nomeadamente no desenho das políticas linguísticas. Neste sentido, a colaboração entre a Academia e as associações culturais, desde o respetivo âmbito de atuação institucional e de responsabilidade social, deve continuar a ser um facto quotidiano, vistos os resultados positivos de que já todos temos conhecimento.

(*) Ângelo Cristóvão é secretário da Academia Galega da Língua Portuguesa.

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Com humildade e trabalho chegaremos longe

Ângelo Cristóvão com a estátua de Fernando Pessoa no café "A Brasileira" em Lisboa

Ângelo Cristóvão

6 Dezembro 2007:

O jornal Público edita, na página 14, uma notícia sob o título: “Parlamento prepara conferência internacional sobre Língua Portuguesa”. Associação de editores e livreiros quer ser ouvida por deputados sobre acordo ortográfico.

Três galegos, que combinaram um jantar no restaurante A Brasileira do Porto, comentam a notícia. Coincidem na necessidade de fazer todos os esforços para conseguir que as associações lusófonas galegas participem, sem exclusões, nesse evento.

7 Abril 2008:

A sociedade civil galega, por meio das Associações Lusófonas, participa de forma coordenada na Conferência Internacional sobre a língua portuguesa realizada na Assembleia da República de Portugal. A representação da Galiza inclui 2 oradores e 8 professores convidados. No dia seguinte, é recebida oficialmente na Academia das Ciências de Lisboa.

8 Abril 2008:

Jornal Público, pág. 3: “Livreiros e linguistas contra. Brasileiros, timorenses, ex-exilados e galegos, pró”.

“Foi esmagador o apoio manifestado ao acordo. Não apenas, como se esperaria, da parte dos envolvidos directamente nas negociações, como Helena da Rocha Pereira, Fernando Cristóvão ou Malaca Casteleiro. Mas também de associações galegas de defesa da lusofonia (o jornal La Voz de Galicia enviou um repórter), de Timor (Luís Costa: “Se não houver unidade ortográfica a confusão será grande, pois temos professores portugueses e brasileiros no país”) e da parte de antigos exilados políticos portugueses no Brasil. Dois deles, integrando a associação Mares Navegados, e o terceiro –coronel Pedroso Marques, presidente da RTP- num apelo emocionado à ratificação do acordo”.

Diário de Notícias, pág. 5: Galiza numa encruzilhada. Convidados a participar na audiência parlamentar, os representantes da Galiza revelaram, por um lado, a satisfação com um acordo que irá facilitar a comunicação com a CPLP mas, por outro, a preocupação por a Galiza não poder ainda integrar esta comunidade. “Julgamos que existem as condições suficientes para dar os primeiros passos neste sentido”, afirmou Alexandre Banhos, presidente da Associaçom Galega da Língua, lembrando a influência da língua e cultura portuguesas naquela região de Espanha. “Apesar do indiscutível avanço nessa direcção, a comunidade linguística desenvolve-se ainda em condições difíceis do ponto de vista legal e social”.

10 Abril 2008:

PGL: O Parlamento aprovou ontem por unanimidade dirigir-se ao Governo espanhol para «no prazo mais imediato possível» lograr a recepçom das televisões portuguesas na Galiza.

Caros:

Neste momento, depois de ler tanto comentário positivo às notícias de Lisboa, só posso transmitir um sincero agradecimento a todas as pessoas que nos mostraram o seu apoio nestes dias, na internet, e a quem colaboraram magnificamente em Lisboa para este sucesso coletivo. É emocionante ver o seguimento realizado no PGL, e também dos amigos de Portugal, através do sinal institucional da Assembleia da República. Os parabéns são para todos, mas especialmente devem ir para o Presidente da AGAL, Alexandre Banhos Campo, pela forma como levou o processo, e o gesto de ter alargado a participação a todas as associações lusófonas, sem exclusão.

Por outro lado, desejo manifestar a minha adesão e satisfação do texto apresentado e lido por ele. No comunicado da Associação Pró AGLP indicamos que “explica a posição institucional das Entidades Lusófonas Galegas, de que somos co-partícipes”.

Julgo que estamos iniciando uma nova etapa cheia de possibilidades, mas estas só podem realizar-se se formos capazes de adquirir compromissos. Já começamos a ver os primeiros resultados desta dinâmica de unidade, e estou certo que teremos mais notícias positivas nos próximos meses e anos. Com humildade e trabalho chegaremos longe.

Muito obrigado a todos.

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O Acordo Ortográfico, 1990-2010

«Na ordem de prioridades da comunidade lusófona deveriam estar em primeiro lugar Timor-Leste e a Galiza»

Ângelo Cristóvão (*) - Duas resoluções adotadas nos últimos dias em Portugal assinalam a culminação do processo de integração institucional do Acordo Ortográfico, que demorou 20 anos a ser completado. Uma é decisão governamental de aplicação das novas regras da escrita no sistema educativo a partir de 1 de janeiro de 2012. A segunda, a votação da Assembleia da República, em 15 de dezembro de 2010, aprovando por unanimidade a proposta do seu presidente, Jaime Gama, para usar o Acordo Ortográfico no Parlamento a partir da mesma data. Isto implica que todas as publicações oficiais e textos escolares irão reger-se pelos mesmos critérios, na República Portuguesa. E acarreta também a criação de novos instrumentos de apoio, como prontuários e dicionários.

Assinado em 12 outubro de 1990 pela Academia das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de Letras e delegações de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, com a adesão da Delegação de Observadores da Galiza, entrará plenamente em vigor depois de importantes órgãos da comunicação social, como os do Grupo Impresa, terem levado à prática progressivamente as novas regras, e de as mais importantes editoras terem publicado dicionários e vocabulários ortográficos conforme ao Acordo, como os da Texto Editora, Priberam informática - com o seu recente FLiP-8 - e a Porto Editora, empresa que acaba de lançar ao mercado a nova edição do Grande Dicionário da Língua Portuguesa.

Estamos observando, portanto, os últimos passos de um processo de decisão política cujas parálises e hesitações chegaram a pôr em questão a capacidade da comunidade lusófona de reunir vontades na questão da língua. No caminho, o texto foi alvo de dificuldades de diversa ordem.

As primeiras estiveram situadas no plano legal. A CPLP aprovou até dous protocolos modificativos do Acordo de 1990. O primeiro, na Praia, em 1998. O segundo, em São Tomé, em 2004, permitindo a adesão de Timor Leste, e a entrada em vigor logo que o terceiro país depositasse os instrumentos de ratificação do Acordo ante o governo de Lisboa. Destarte, em teoria, está em vigor em todos os países assinantes desde o 13 de maio de 2009. Mas governo e parlamento portugueses estabeleceram em março de 2008 um período de transição entre as velhas e as novas regras da escrita, até 2014.

O segundo tipo de dificuldades veio dos movimentos contra o Acordo Ortográfico, nomeadamente em Portugal, chefiados por alguns líderes políticos e mediáticos que, com ampla repercussão na comunicação social, se fizeram ouvir, reunindo até 100.000 assinaturas, o que só conseguiu demorar o processo por breve espaço de tempo.

Uma terceira ordem de questões referiu-se à coordenação no seio da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), onde uma diversidade de circunstâncias políticas e económicas dificultaram o consenso necessário para que a defesa da língua e da sua unidade fizessem parte central das suas políticas. Felizmente, nos últimos anos algumas dúvidas foram sendo esclarecidas, especialmente nos países africanos. A recente tomada de posse na presidência do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), pelo professor brasileiro Gilvan Muller de Oliveira, pode abrir uma nova etapa nessa instituição.

No entanto, restam ainda outros âmbitos de atuação de não menor relevância, como o referido à construção de instrumentos que permitam fomentar e tornar patente a unidade do português, onde até agora eram reconhecidas duas normas para a escrita. A prevista elaboração do Vocabulário Ortográfico Comum será uma primeira prova de capacidade, tanto se for referida aos âmbitos científico e técnico, como entendida na abrangência da língua comum, pois ambas as leituras foram realizadas do texto do Acordo. Para este projeto o presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa, Professor José-Martinho Montero Santalha, já apresentou o contributo galego em sessão conjunta com a Academia Brasileira de Letras e a Academia das Ciências de Lisboa, na capital portuguesa, a 7 de abril de 2009.

Outro foco de atenção é o referido aos espaços em que o português se acha numa situação mais fraca. Na ordem de prioridades deveriam estar em primeiro lugar Timor-Leste e a Galiza. Deixando à margem os percursos históricos e os condicionamentos políticos por que se distinguem ambos os territórios, uma cabal compreensão da questão deveria levar a uma maior atenção e a uma posição mais ativa.

(*) Secretário da Academia Galega da Língua Portuguesa.

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