Crónica do invisível (e II). A chavinha de vidro

Concha Rousia
Concha Rousia

Portugal está pechado
c’uma chavinha de vidro
se essa chavinha se perde
Portugal fica perdido.

Da Brasileira fomos ao restaurante guiados pola mocidade de AGAL de Lisboa, éramos vinte, três ou quatro éramos portugueses, outros éramos os que chegáramos o dia anterior, outros éramos galego-portugueses simplesmente. Foi um jantar-ceia inesquecível: as caipirinhas, o picadinho mineiro, o sorvete de maracujá, o café, de novo o café... Mas o café só veio ao final; antes vieram as apresentações, que foram ideia do Alexandre, que ia anotando os nomes num livrinho pequeno...

O primeiro em falar foi Antonio Gil, e a seguir fomos um por um despindo nas palavras e nos risos e brincadeiras tudo o que éramos e o que não éramos. Foi uma festa... um convívio entranhável, que fez com que a cama tivesse que aguardar por nós... E de novo o metro, linha azul, depois amarela; entramos no hotel lá perto das duas da madrugada, mas o corpo ainda não nos pedia cama, não... 


Ceia AGAL


Nós, caros e caras que estais a ler esta crónica, sentíamos a necessidade de saber de vós, de saber que vós sabíeis que tudo fora bem; foi nesse instante que eu entendi o argumento sobre a necessidade da Trindade que exprimira Xavier quando íamos a caminho de Lisboa... “Se Deus é amor, necessita amar, daí a necessidade do Filho, mas para que tenha existência real, a cena necessita ser contemplada por um terceiro: o Espírito Santo...”

Não estou a dizer que vós fosseis o Espírito Santo, mas isso é exactamente o que estou a dizer mesmo... Nós tínhamos falado, e tínhamos sido ouvidos, mas para nós saber isso, para que isso fosse realmente certo, nós necessitávamos a segurança de que vós nos tínheis visto. O portátil do Ângelo não nos dava para conectarmo-nos à rede desde os quartos por causa de um antivírus de última hora, e foi a net de moedas, como as antigas cabinas de telefone, que nos permitiu vermos-nos, vermos-nos através de vossos olhos...


Ceia AGAL


Nunca esquecerei a imagem do hall do hotel... lá na esquina Martinho não cessa de meter moedas para que a máquina nos siga mostrando o PGL, eu que ficara preocupada porque a minha câmara se tinha parado no minuto três da intervenção de Alexandre fiquei de boca aberta ao ver que já lá estava no portal... parecia uma miragem.

Aos poucos a gente foi indo para a cama, eu fiquei de última esgotando os minutos que restavam por gastar na cabina-net. Abri meu correio. Tinha uma mensagem de Selmo Vasconcellos, que me avisava de que no número 51 de “O Rebate” revista que ele dirige em Porto Velho (Rondônia), saíram seis poemas meus. Pareceu-me um bom sinal receber aquela mensagem vinda do Brasil em Lisboa; a noite não podia ter melhor final para mim.

Na máquina esgotaram-se os minutos. Fora seguia a chover; quando já me ia, o guardinha do hotel desejou-me boa noite e falou-me de que antes chovia no Norte e agora chovia em Lisboa... Quem sabe este guardinha não seja do Norte, desses que nós enganávamos nos nossos jogos; quase quis perguntar mas vi que tinha cara de muito falador e simplesmente lhe respondi ao da chuva, os dous concordamos com que o tempo anda com o de acima para abaixo...

De manhã no pequeno almoço acabamos de organizar as actividades nas que já tínhamos falado nos dias anteriores... e que já agora, não incluíam uma visita pausada e afectuosa a esta cidade que nos dava o que tinha: sua alma. Em muitos momentos eu senti a necessidade de pedir perdão a Lisboa por não a poder visitar como ela, senhora que é, merece; mas prometi-lhe voltar...


Subir ou descer


Os trabalhos foram repartidos muito bem, escritórios para visitar, documentos para apanhar, embaixadas que informar... e num par de horas no hotel para outra sessão de trabalho. Foi uma jornada muito frutífera; ficamos satisfeitos com os planos de futuro, que já são pressente; julgamos que encontramos alguns aliados que nos vão ajudar no cuidado dessa chavinha de vidro que nos abre as portas da Lusofonia. De novo almoçar para ir depois a visitar a Academia de Ciências de Lisboa.


Indo à Academia das Ciências de Lisboa


A cita era as 16:30, e era com o Presidente da Academia, o Dr. Adriano Moreira. Fomos de metro, de novo a linha amarela e a azul... Chovia, íamos partilhando os guarda-chuvas como partilhávamos nossos destinos, e nossos encantamentos de como todo ia saindo... Desde a parada Baixa-Chiado fomos a pé até a Academia... esses foram os escassos momentos com luz de dia que andamos algo pola cidade, mas sem parar de andar... Chagamos.

O senhor Presidente da Academia recebeu-nos como membros da Academia Galega. Um senhor com saber diplomático; sentado entre o Ângelo e o Alexandre manifestou interesse por nós, pola nossa Academia, polas futuros relacionamentos, pola Galiza... no plano mais pessoal ao final nos disse que ele era de Bragança, por tanto vizinho do Norte; rematou a reunião e antes de nos ir embora mostrou-nos a biblioteca...


 Foto-reportagem Academia das Ciências de Lisboa
(08 de Abril de 2008 | Fotografias: Ângelo Cristóvão)


Impressionante, por dizer alguma palavra. Tiramos fotos dos tesouros linguísticos e da estância. Era hora de partir... Lisboa parecia querer-nos pegar nos pés, mas havia muita distância que percorrer. Voltamos ao lugar do carro, fomos às compras de última hora... Eu tinha uma encarga, só uma...

Quando o domingo sai de casa minha filha disse: trai-me ovinhos moles de Aveiro. E eu fui a procura disso, e de umas revistas das Winx, que ela adora. Na livraria tivemos que tirar uns dos outros porque os livros nos prendiam... parecíamos esfameados que sabiam que apenas tinham uns momentos e depois a estrada os separaria desta liberdade de escolher leituras. Trouxemos connosco dicionários e outros livros, e eu ainda entrei numa loja para trazer vinho do Douro...

O caminho de volta foi igual de intenso que o de ida, as conversas, agora depois de tantas horas juntos até tínhamos a sensação de nos conhecer melhor, como de toda a vida... Paramos nas beiras do Porto para comer um bocado e compramos a imprensa. Lá por volta das duas da madrugada chegamos a Padrão depois de passar por Pontevedra; ainda ficavam Compostela e Corunha a aguardar por alguns de nós.


De volta de Lisboa


Esta viagem saciou-nos de tudo o que nos leva faltado durante tanto tampo, saciou-nos com respeito por nós, por nós ser o que somos; isso que se nos nega na nossa própria terra e que Portugal, desta vez muito generoso, nós ofereceu, e por uns dias nós fez sentir o centro do universo. E nós, guerreiros e guerreiras contra o silêncio e o esquecimento, prometemos cuidar da chavinha de vidro, que nunca, nunca vamos deixar partir...

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Crónica do invisível (I). O mar em Lisboa

Concha Rousia 
Concha Rousia

- Mas que há de novo lá por Lisboa?
- Coisa má nenhuma, somente ouvi dizer que o mar se volvera papas...

Partimos de Padrão, dai fomos a Pontevedra, onde se uniu a nós o quinto ocupante do carro. Martinho mostrou-nos o ponto exacto onde mataram Alexandre Bóveda. Sentimo-nos muitos no carro, mais dos que éramos, e éramos muitos...

O trajecto até Lisboa foi um fio de palavras. As conversas foram connosco, o já feito, o por fazer... O cansaço tomou logo conta dos corpos, paramos, Ângelo pode assim descansar os olhos enchendo-os de verde em lugar do negro do asfalto. Tiramos a primeira foto. Eu lembrei-me, como é meu costume, de todos os que estavam connosco sem estar... entre eles Rosalia, entre eles Bóveda, entre eles a minha mãe a me ensinar o cantar da joaninha:

“Voa joaninha voa, que teu pai vai em Lisboa, e vai-che traguer pão e cebola...” –deves repetir até que a joaninha voar...  


A caminho de Lisboa


E a canção do “Malhão” que eu sempre julguei era galega e depois foi que aprendi que o não era. Aqueles foram tempos em que eu vivia de verdade imersa na lusofonia... e as nossas casas feitas polos castrejos de Castro Laboreiro, e o senhor João, e o Freitas que traz café, sabão, e as duas mulherinhas de olhos gázios, mãe e filha, a nós trazer os panos de cozinha, os refaixos, e as toalhas, e a feira de Santos de Montalegre... e os bois, e a chega, e subir as calças, e os guardinhas sempre a perguntar:

- Mas que há de novo lá por Lisboa?
- Cousa má nenhuma, somente ouvi dizer que o mar se volvera papas.
- Mas isso não pode ser...!

E atravessar um lameiro e do outro lado é Portugal... “Mas como pode ser isso?” De crianças procurávamos entender o que era a fronteira; depois fomos aceitando que era invisível, que era algo no que se falava, algo que nos obrigava a ir classificando tudo...

A canção do Malhão é portuguesa... A da Carolina é galega. Eram tempos sem televisão, e as rádios, como nós, também não aprenderam a parar suas ondas em raias imaginárias e nós sentíamos Montalegre ali pertinho. É estava mesmo.

Hoje o mundo recoloca-se todo dentro de nós e as conversas vão servindo de apoio a este processo que vai tendo lugar em cada um de nós... e o acordo do 86, e o do 91, e os que chegaram a Lusofonia pola via do estudo e a análise profunda, e os que simplesmente nascêramos ali, e depois se nos arrancou para nos transplantar na Hispanofonia... Eu fui desses que não chegaram a prender; e hoje mentes o carro vai bebendo os ventos que nos falam do futuro, vamos abraçando naquinhos esquecidos do nosso passado... E como sempre, era à terceira que os guardinhas eram enganados...

- Mas que há de novo lá por Lisboa?
- Coisa má nenhuma, somente que quando eu vir, vi como a gente toda, grandes e pequenos, homens e mulheres, iam com colheres a correr para o mar....
- Aió, pois olha que vai ser certo que o mar se volvera papas...!

E os guardas do nosso jogo corriam também para o mar, e a raia era livre e nós passávamos de um lado para o outro vencedores ao final.

E chegamos a Lisboa; ao pouco tempo veio o Estraviz e Manuela, e depois Alexandre e Margarida; Joel ligou para nós, ao telefone de Ângelo, e combinamos para o dia a seguir, o dia da Assembleia da República. E lá estava eu, começara enganando a uns guardinhas há perto de quarenta anos e agora era eu a que viera até Lisboa com a minha colher. Era tarde, mas ainda levávamos trabalhinhos para ser acabados no silêncio dos nossos quartos. Foi um momento no que eu agradeci todos os conselhos que me foram dados. Dormimos.

De manhã, logo de um pequeno almoço, ao que, a meu modo de ver, o nome não lhe liga nada bem, fomos para o Palácio de São Bento; uns de metro e outros no carro de Margarida para carrejar os livros; já lá estavam Teresa e Rodrigo. Fomos os primeiros em chegar, os galegos e galegas chegamos mesmo antes de que se abrissem as portas.

Éramos onze em total, todos convidados pola Assembleia. Todos respeitados como membros da Lusofonia, e assim nos receberam, e assim no-lo fizeram sentir também os primeiros portugueses que foram chegando, reconhecendo aos mais velhos entre nós, falando em encontros passados, e fazendo sonhar aos mais novos com um dia ser assim reconhecidos polos que hoje aqui encontrávamos.

A manhã começou a ir deixando passar os oradores. Abriu a sessão o Presidente da República; a seguir falou o presidente da Academia de Ciências de Lisboa; depois veio Bechara e o abraço morno do Brasil; falou também o representante de São Tomé e Príncipe; e finalmente, com uma energia que se fez notar, fechou esta sessão a Presidenta do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (CPLP).

Antes de a gente ir a almoçar, os corredores se encheram, as mãos se encontraram, os cartões e os livros mudam de lugar, os sorrisos, os jornalistas, as televisões, o descanso, a imensa escalinata, o bacalhau, o vinho verde, a sobremesa e o café, ai o café... o café aqui é outra cousa, o café aqui é “o café”...

De volta na nobre sala continuou a jornada. Falou o primeiro dos convidados, Vasco de Graça Moura, que não soube estar a altura de si mesmo, talvez por ele se saber perdedor antes de abrir a boca. Atrás dele falou Carlos Reis, que o derrubou com a primeira frase, e continuou a falar com palavras e com suas mãos e com seus olhares vivos e sinceros, e com verdades... e no momento da pausa todos o quiseram cumprimentar e nem foi possível para todos conseguir isso. Na pausa voltaram as conversas e os abraços e os irmãos que nos chamaram de irmãos... sim, definitivamente, por incrível que pareça, o mar se volvera papas e eu fora lá convidada.

A pausa foi breve e pronto voltamos todos à sala. A mesa estava agora integrada polos representantes dos diferentes grupos parlamentares, e ante eles falaram todos os da audiência que tinham turno para isso. Começou a sessão Malaca Casteleiro. Ele estava sentado do lado dos galegos, junto dele estava Bechara, e o outro dos três daquela bancada era Estraviz; eu tive o privilégio de tirar a foto. Lá permaneceram os três, eu lembro ter pensado que nem sempre é por acaso que o destino junta a gente.

Atrás de Casteleiro falaram o resto de oradores; todos se foram alinhando com o discurso de Carlos Reis e o apoio ao acordo ortográfico, com alguma excepção, como a do livreiro que parecia magoado por ter que destruir tanto livro como há na norma antiga... e ele não reparou em que isso nunca se tem feito ao longo da história, se isso se fizer poucos livros de valor haveria nas bibliotecas das Academias; mas enfim, ele falava em nome dos livreiros...


Alexandre Banhos na Assembleia da República


Finalmente chegou a nossa hora, a hora dos galegos... Eu estava sentada no meio, equidistante entre Alexandre e Ângelo, os nossos oradores; agora era a nossa voz que ia encher a sala. Primeiro falou o Alexandre, e todos falamos com ele; depois falou o Ângelo, e todos falamos com ele.

Falamos bem e fomos cumprimentados depois, saudados, parabenizados, e até talvez por algum, temidos, os galegos... Nós, contentes, nossa pertença a Lusofonia tornara-se o que tinha que ser: óbvia... Não podemos saber aonde poderemos chegar, sabemos é que lá chegamos, e sabemos que vínhamos de muito longe e não nos vamos precipitar agora que estamos mais perto... Nós entraremos onde quer que tenhamos de entrar...


Ângelo Cristóvão na Assembleia da República


Como lhe dizia o Ângelo ao representante do PCP “Os galegos entramos na Lusofonia pola porta grande” E eu reparei que as portam eram muito grandes, e como no conto dos guardinhas, que deixavam o passo livre, estas portas foram abertas para nós passar... E nós passamos, e nos sentimos em casa, aquele espaço era nosso.

Com o final da tarde vieram as despedidas e os planos de futuro. Mas o dia ainda não ia acabar ai para nós que estávamos sendo aguardados no Baixo Chiado, lá na Brasileira, polos membros de AGAL de Lisboa que nos prepararam uma festa que coroou um dia que nascera republicano... Na porta da Brasileira, sem medo da chuva que nos seguira até Lisboa, tiramos nossas fotos com Pessoa, mesmo parece que levava muito tempo a nos aguardar... (a seguir)


Na Brasileira

 Fonte original:

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Crónicas do Brasil (II): A ABL e o Real Gabinete Português de Leitura

ABL e RGPL

Por Concha Rousia

A verdadeira viagem não acaba nunca, e muito menos acaba quando o corpo regressa ao lugar de partida. O meu corpo chegou no dia 12 de Abril, e desde esse dia até o 22 esteve a gravitar por algum lugar afastado de minha consciência. Hoje, dia 22, acordei e vi que tudo estava no seu lugar. Beijei minha filha, ouvi cantar o galo da Amaia, e abri as Memórias Inventadas de Manoel de Barros. Bendigo hoje esse nome, ‘Manoel’, com ‘o’, que normaliza os meus amigos da infância e naturaliza as minhas falas.

Os passos foram: Santiago, Vigo, Porto, Lisboa, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, e ainda depois Santa Catarina. Até chegar ao Rio irei por atalhos, pois esta parte da viagem já foi magnificamente contada por Isabel Rei. Chegamos a Brasília como parte da Comitiva Oficial dos Colóquios da Lusofonia, com a chegada do sol. O primeiro café e a cor do ouro nas notas de vinte reais fizeram acordar em mim as mitologias herdadas dos tempos dos avós. A humanidade nos rostos e a grandeza na paisagem marcaram a chegada a um mundo imenso... com a emoção de finalmente me sentir nos braços do Brasil... onde a erva retém a cor da minha infância, e a minha infância vem assim se reencontrar comigo. Percebo que há muito de mim que vai ficar aqui.

Sinto-me em casa, agora que aqueles espanhóis do avião pararam de gritar, noto como este mundo me completa. As árvores piscam suas pétalas para mim. Estou contente, embora carrego uma mágoa... a Galiza vai velhinha, e sem dúvida, vai doente, pergunto-me se nos dará tempo a que o Brasil nos reconheça... ele é tão grande que eu não sei se notará a nossa presença...

De Brasília o atalho, que não era tal, passa por São Paulo. No aeroporto vi duas mulheres que tinha conhecido no passado, só que não saberia dizer se eram índias ou se eram emigrantes das beiras do Minho que seguiam a levar vestimentas antigas e pretas como as minhas... Compreendi que estava no mundo mais amplo e mais profundo dos que já tinha visto... um mundo que reborda vida e energia, onde as emoções e as flores se misturam nos olhos que aprendem a medir hoje distâncias infinitas... um mundo que semelha não caber em si mesmo e porém pode, ao mesmo tempo, acolher os outros todos... Uma paradinha na Estação da Luz permitiu-nos ver o museu da nossa língua... polo caminho uma pessoa à nossa frente perfumava o ar com sons brasileiros da nossa fala... A visita ao museu foi breve, intensa, saí convencida de ter visitado o templo da minha única religião... onde a luz se fez poesia.

ABL e RGPL

Na volta ao aeroporto, com um taxista nordestino que merece menção por nos ter oferecido um curso acelerado de brasileirismo, atravessamos o rio Tietê, que avança para seu destino distanciando-se do mar, a caminho de Minas Gerais, achei que nesse rio havia uma mensagem para esta viagem, mas guardei-a sem abrir... Essa mesma noite deixamos São Paulo para ir dormir a Copacabana. Chegamos tarde, apenas com tempo para comprovar que nas malas continuavam os papéis com o discurso do dia seguinte na Academia Brasileira de Letras. No dia 29 o Professor Malaca Casteleiro, Chrys Chrystello e eu, almoçamos na Academia com Marcos Vilaça, o seu Presidente, o Professor Evanildo Bechara e outros académicos.

As instalações desta centenária instituição combinam, harmoniosamente, funcionalidade e classicismo. Tudo em sintonia com o que representa o Brasil. O almoço transcorreu num ambiente de elegância, sem excesso de formalismo, o que fez sentirmo-nos em casa. Antes da comida vieram as palavras de Marcos Vilaça, a nos dar as boas vindas e nos fazer entrega da medalha da nobre Academia, na que figura em relevo Machado de Assis. As conversas entre os ires e vires ao bufete, até chegarmos ao bolo pernambucano, obra de arte em forma de sobremesa, facilitaram o contato entre todos os assistentes.

Às duas fomos para a sala de conferências onde os assistentes estavam a chegar. Começamos pontualmente, abrindo com as palavras do Presidente, e as do Professor Bechara, coordenador da jornada. Eu fui a primeira no uso da palavra. Foi emocionante, era a minha voz a falar, e era eu, mas não era eu, éramos todos e todas os que nos sentimos sempre ‘nós’ dentro da palavra ‘eu’... mesmo o público era comigo. Lá entre os assistentes, para além da companheira Isabel Rei, os colegas dos Colóquios da Lusofonia, e os académicos da ABL, reconheci três rostos amigos que quero mencionar, pois foi para mim uma alegria imensa os reconhecer entre os das primeiras filas; eles são: Evandro Ouriques, Fabiano Oliveira, e Marcos Crespo, velhos amigos, nossos e da Galiza, agora também irmãos e camaradas...

ABL e RGPL

A seguir falou o carismático presidente dos Colóquios da Lusofonia, o Professor Chrys Chrystello, que sempre me surpreende com seus discursos exatos e capazes de ir além. Finalmente falou Malaca Casteleiro, o mestre do Acordo Ortográfico, ao que sempre me esqueço de agradecer estas suas magistrais aulas. Bechara fechou aquela magnífica jornada na que todo o mundo parecia se sentiu à vontade, e com vontade de que a tarde não passasse... Mesmo que da Academia ainda devíamos ir ao Real Gabinete Português de Leitura, onde nos aguardava António Gomes da Costa para assinar um protocolo de colaboração entre a Instituição que ele preside e a Academia Galega da Língua Portuguesa; ao tempo que os Colóquios da Lusofonia firmaram também um com o Liceu Literário Português do Rio de Janeiro.

A música da Isabel e a poesia (Rosália, Celso Emílio, Guerra da Cal, Avilés de Taramancos...) que eu li, encerraram o dia no Rio de Janeiro, um dia que nunca terá final, e ao que sempre sonharei voltar para poder tomar um café no Villarino, lá onde Vinícius de Moraes e Tom Jobim selaram a sua parceria; lugar onde se ouviu pola primeira vez o termo Bossa Nova que ninguém sabia ao certo o que significava, mas, acabou dando nome ao novo estilo musical que revolucionou e marcou uma era no Brasil e no mundo.

Áudio da sessão na Academia Brasileira de Letras

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