Catedrático José-Martinho Montero Santalha defendeu em Bragança criação da Academia Galega da Língua Portuguesa

José-Martinho Montero Santalha

Instituição estaria já em processo de constituição
e visaria facilitar a incorporação da Galiza à Lusofonia

Ângelo Cristóvão - O V Colóquio Anual da Lusofonia, que teve por título "Do Reino da Galiza aos nossos dias: a Língua Portuguesa na Galiza", foi o lugar escolhido pelo professor José-Martinho Montero Santalha, catedrático da Universidade de Vigo, para expor e defender a ideia da criação da Academia Galega da Língua Portuguesa.

Foi a Quarta-feira, 4 de Outubro, aos 100 anos da criação da Real Academia Galega, que Martinho Montero Santalha lançou a ideia da constituição de uma academia galega da língua que facilite a incorporação da Galiza à lusofonia.

Entre os motivos expostos pelo professor para esta iniciativa, indica dois principais: a impossibilidade de colaboração com a Real Academia Galega – que, no seu endender, nas últimas décadas adoptou um modelo castelhanizante para o galego –, e a necessidade de a Galiza ter uma instituição capaz de a representar na CPLP e noutros organismos internacionais.

Não esqueceu o professor tratar os possíveis «obstáculos para uma iniciativa deste tipo», como os relativos a questões legais e organizativas. Contudo, considera que podem ser ultrapassados se houver vontade e compromisso com o projecto. Neste sentido fez um chamamento à participação, sem exclusões.

O debate registou nove intervenções do público, a maior parte a favor da iniciativa, enquanto outras, como a do professor Xosé Ramón Freixeiro Mato, apresentaram reticências. A questão mais discutida foi a pertinência do nome da instituição. A respeito disto salientamos algumas respostas de Montero Santalha:

«Continuar a falar de galego é um dos grandes problemas, eu creio que é um dos grandes erros continuar a chamar ao galego língua galega, porque nada ganhamos com isso e perdemos muitíssimo. Quer dizer, chamar-lhe galego por que? Por manter o nosso orgulho? Tiveram o mesmo problema os brasileiros, que utilizaram durante algum tempo no nome língua nacional, por não chamar-lhe língua portuguesa. Todo o mundo lhe chama língua portuguesa».

«A palavra tem uma força terrível, quero dizer, as palavras. Então, chamar-lhe língua galega ao que é língua portuguesa da Galiza para todo o âmbito lusófono é uma maneira de enganá-los, porque é uma maneira de fazer-lhes ver que isso não tem nada a ver com eles. Porque não se chama língua brasileira: chama-se língua portuguesa do Brasil. De modo que esta é uma das causas... Temos que ter uma instituição que para o resto do mundo lusófono seja claramente lusófona: língua portuguesa da Galiza, não língua galega. Esta é precisamente uma das causas de fazer-se [a Academia]».

A gravação do som pode ouvir-se na página web Versão Original, que também disponibiliza a comunicação do professor galego, mais uma transcrição da palestra, que inclui a «exposição de motivos» mais o interessante debate produzido.

Pequena Biografia de José-Martinho Montero Santalha

José-Martinho Montero Santalha nasceu em Cerdido (Galiza) em 1941. Frequentou o Seminário de Mondonhedo e, em Itália, realizou estudos de Teologia e Filosofia (Universidade Gregoriana de Roma). Doutorou-se em Filologia com uma tese sobre as rimas da poesia trovadoresca (em 2000, Universidade da Corunha). Muito cedo aderiu aos movimentos a prol da reintegração linguística, convertendo-se num dos principais promotores.

Durante a sua estadia em Roma (1965-1974) participou no grupo “Os Irmandinhos”, preocupados pela recuperação do galego na liturgia e na sociedade em geral. Nessa altura foi um dos assinantes do “Manifesto para a supervivência da cultura galega”, publicado na revista Seara Nova (dirigida por Rodrigues Lapa) em Setembro de 1974.

A começos da década de 80 participou na fundação de diversas associações culturais galegas, como as Irmandades da Fala, Associaçom Galega da Língua e Associação de Amizade Galiza-Portugal.

Tem publicado numerosos estudos em diversas revistas e congressos internacionais, sendo um dos autores mais prolíficos e respeitados da Galiza lusófona. Actualmente é catedrático de Língua e Literatura galega na Universidade de Vigo (Campus de Ponte Vedra). Alguns dos seus textos mais representativos são:

  • Directrices para a reintegración lingüística galego-portuguesa. Ferrol, 1979.
  • Método Prático de Língua Galego-Portuguesa. Ourense: Galiza Editora, 1983.
  • Carvalho Calero e a sua obra. Santiago de Compostela: Edicións Laiovento, 1993.
  • "A lusofonia e a língua portuguesa da Galiza: dificuldades do presente e tarefas para o futuro". Temas de O Ensino de Linguística, Sociolinguística e Literatura, Ponte Vedra-Braga, Vol. VII-IV, núms. 27-38 (1991-1994), pp. 137-149.
  • Oxalá voltassem tempos idos! Memórias de Filipe de Amância, pajem de Dom Merlim. Santiago de Compostela: Edicións Laiovento, 1994.
  • As rimas da poesia trovadoresca galego-portuguesa: catálogo e análise. Corunha: Universidade da Corunha, Faculdade de Filologia, 2000, 3 volumes, 1796 pp. (Tese de Doutoramento).

Mais info sobre o V Colóquio Anual da Lusofonia:

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Rachando o nevoeiro que nos torna invisíveis...

XIV Colóquio da Lusofonia

XIV Colóquio da Lusofonia, Bragança setembro-outubro de 2010

Concha Rousia (*) - Há nove anos que nasceram os Colóquios da Lusofonia; eu levo assistido aos três últimos em Bragança, e a outros três nos Açores e Brasil, e devo admitir que a cada vez pertenço mais a este território chamado Lusofonia.

Este ano os Colóquios abriram em Bragança o dia 27 de setembro, depois de o fazerem em Braga o dia 25 para inaugurar os Estudos de Açorianidade, e em Santiago de Compostela onde se celebrou o II Seminário de Lexicologia da AGLP.

No final da sessão de abertura desta XIV edição soou o hino dos Colóquios, dos que eu, junto da Isabel Rei e o Vasco Pereira da Costa somos autores. O nosso hino foi cantado pola assistência e pola extraordinária soprano Raquel Machado, tudo envolto nas notas do piano da Ana Paula Andrade, do Conservatório de Ponta Delgada; previamente Ana Paula e Raquel nos deleitaram com música tradicional.

Nesse mesmo dia ainda houve tempo para apresentações de publicações com os escritores Anabela Mimoso e Vasco Pereira da Costa, o editor Francisco Madruga, e eu, que apresentei o Boletim número 3 da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP), o Cancioneiro de Marcial Valladares ‘Ayes de Mi País’, o Léxico da AGLP, o Galiza: Língua e Sociedade, e os Cantares Galegos de Rosalia de Castro, que é o primeiro volume dos Clássicos da Galiza editados polas Edições da Galiza e a AGLP. Foi para mim um privilégio ouvir os poemas de Rosalia nas vozes dos escritores Mário Moura e Vasco Pereira da Costa, com os que tive a honra de recitar.

Nos dias a seguir esta segunda-feira memorável, o Colóquio durou até o sábado dia 2, os participantes pudemos assistir às comunicações trazidas por professores e professoras, pesquisadores vindos desde Macau, Brasil, Malaca, França, Itália, Estados Unidos, e também Portugal continental e as ilhas Madeira e Açores, e a Galiza, de onde assistiram com comunicações, para além de mim, o Ângelo Cristóvão, o Luís Foz, o Alexandre Banhos e a Margarida Martins. Devo salientar a elevada qualidade científica das apresentações. Muito proveitosa foi a Sessão de Esclarecimento que teve lugar no dia 29 setembro com a Escola Secundária Miguel Torga, na que participamos os representares das três academias, junto dos escritores Anabela Mimoso e Vasco Pereira da Costa e o presidente dos Colóquios, o Dr. Chrys Chrystello. No final, fomos agraciados com a medalha comemorativa do centenário de Miguel Torga e um livro alusivo ao mesmo.

Salienta na memória a homenagem ao escritor convidado, Vasco Pereira da Costa, que começara com a declamação do poema Ode ao Boeing 747 em 11 das 14 línguas para que foi traduzido. Eu li a versão traduzida ao Castelhano, e descobri que em Portugal essa língua me mete menos medo, e Foz leu a traduzida ao Catalão... este original começo foi seguido da declamação, por parte de Chrys Chrystello e de mim mesma, de uma dúzia de poemas do homenageado. A noite concluiu com a voz do poeta Vasco Pereira da Costa que nos ofereceu a leitura dos seus poemas...

Se tivesse que resumir os Colóquios numa frase diria que é um espaço no que crescer, um lugar ao que pertencer, um lugar no que existir sendo apenas o que um é, um lugar onde um se pode permitir ser vulnerável porque um se acha entre irmãos de língua, um lugar para querer ser visível. Houve tempo para quase tudo, também para visitar o castelo e os vários museus da cidade.

E no final as despedidas, que são um ‘até o próximo Colóquio’ ...e a troca de cartões e de abraços... e a volta pola mesma estrada, que a mim não me parece a mesma da ida, quando vou me vai oferecendo mais e mais, e quando volto me vai roubando... tudo vai indo bem enquanto consigo apanhar a ‘Antena Dois’ ou a ‘Rádio Brigantina...’ ora aos poucos começam a aparecer mais e mais as ondas castelhanas das rádios que infestam o nosso país e eu desligo a rádio para, em silêncio, continuar a morar na Lusofonia até chegar a Compostela. Imaginando o tempo que terá que passar até o Colóquio XV que será em Macau na primavera deste mesmo ano... Carregada de forças, de saúde de língua, e de irmandade lusófona, que leva o nosso nome daqui aos quatro cantos do mundo...

P.S. Quando acabei de escrever esta crónica, recebi uma mensagem amiga que vinha confirmar a nossa visibilidade na Lusofonia, visibilidade que a mim neste outono de nevoeiros que atravessamos na Terra me soube melhor do que o pão, é foi por isso que decidi incluí-la como parte da própria crónica, por isso e também para honrar a pessoa que ma enviou:

"No outro dia, numas imagens que passaram no noticiário da SIC sobre o colóquio da lusofonia em Bragança, lá estavas tu, sentada na plateia, em lugar de destaque na imagem. Depois deu para ouvir um pouco do Malaca Casteleiro. Mas, sobretudo, foi bom ver-te ali, representante da Galiza que fala a mesma língua que todos nós, da Corunha ao Rio e de Luanda a Díli."

Galeria Fotográfica no Picassa

(*) Académica, membro da Comissão Executiva da AGLP.

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