II Seminário de Lexicologia - Entrevista ao professor Evanildo Bechara

Evanildo Bechara mostra-se a favor da aplicação do AO na Galiza
e de um entendimento entre a AGLP e a RAG

 AGLP / PGL - Na entrevista, realizada por Breogão Martínez Vila, do Portal Galego da Língua, durante o II Seminário de Lexicologia da Academia Galega da Língua Portuguesa, o professor Bechara começou advertindo que a Academia Brasileira de Letras encontra, inconscientemente, um obstáculo à realização da tarefa que tem encomendada, porquanto deve tratar de língua, e não principalmente de linguística.

Explicou isto da seguinte forma:

"A ABL preocupa-se com a língua e o seu estudo, mas ela não quer ser uma instituição de linguística. Hoje encontramos no Brasil um movimento no sentido de dar uma feição linguística ao ensino da língua. Na Academia temos procurado mostrar que cabe ao professor de língua um papel diferente do professor de linguística".

"Todas as manifestações linguísticas interessam ao linguista, o que não ocorre com o professor de língua portuguesa, que se preocupa em mostrar ao aluno que, ao lado da sua realidade de competência linguística, qualquer e ela seja, existe uma realidade imposta pelas injunções sociais, e que ele tem de se manifestar, em determinadas situações, dentro dessa norma chamada exemplar. Isso não significa que a Academia vai fechar os olhos às outras realidades linguísticas, mas tem de mostrar que ao lado das outras realidades linguísticas existe uma que tem um prestígio cultural e que deve ser aprendida pelo aluno. Então a Academia insiste em que o trabalho do professor de língua é transformar o aluno num poliglota dentro da sua própria língua".

Continuou ainda explicando os saberes que o aluno tem de adquirir, em termos do professor Coseriu: Elocutivo, idiomático e expressivo. "O saber elocutivo é saber falar com congruência. O saber idiomático é saber a língua, saber usá-la com correção. O terceiro é o saber expressivo, saber construir textos orais ou escritos em determinados momentos. E cada um dos saberes tem a sua eficácia".

Relativamente ao Acordo de 1990, indicou que "não pretende ser apenas um disciplinador na grafia das palavras da língua comum. Mas pretende na medida do possível ser também um elemento unificador das terminologias científicas". Referiu o exemplo das terminologias geográficas, pondo o exemplo a divergência na escrita dos nomes das cidades de Moscovo / Moscu e Estugarda /Stuttgart. "O que o Acordo propõe é ao lado da unificação da grafia dos nomes comuns, haja na medida do possível uma unificação entre os países lusófonos, da sua terminologia técnica e científica. Para a medicina, física, química, internet, botânica, toponímia, etc".

Aplicação do Acordo Ortográfico na Galiza

No tocante ao caso da Galiza, o professor é da opinião de aproximar o mais possível o galego das regras do Acordo de 1990. "Por exemplo, escrever o n com til encima, fonema que pode ser representado pelo grafema nh, há grandes possibilidades de no galego se adotar esse grafema, em vez do n com til, que é uma representação mais castelhana".

Finalmente, respondendo à pergunta do entrevistador sobre o trabalho da AGLP, o gramático brasileiro entende "que esta Academia Galega da Língua Portuguesa tem tudo para se fixar. Em primeiro lugar, está fundamentada em princípios científicos. Em segundo lugar, tem na sua presidência e no seu corpo diretivo um conjunto de filólogos e linguistas do mais alto valor. E em terceiro lugar, existe nesta nova Academia Galega da Língua Portuguesa um espírito de pacificação, de solidariedade para se aproximar da academia galega atual".

"De modo que os princípios científicos, os homens que estão na direção desses princípios científicos, e o desejo honesto de chegar a uma solução pacífica naqueles problemas de diferença entre as duas academias, a atual e a AGLP, eu acho que esses três princípios fazem com que nós, do lado de fora, imaginemos os melhores resultados de aproximação dessas duas academias".

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Vídeo-entrevista a Evanildo Bechara, coordenador da CLL da ABL

PGL | AGLP - Evanildo Cavalcante Bechara, natural do Recife, ocupa a cadeira número 33 da Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito em 2000. Como filólogo, é conhecida a sua edição das Investigações Filológicas de M. Said Ali. Como gramático é autor da muito divulgada Moderna Gramática Portuguesa, (37.ª edição, 1999), a Gramática Escolar da Língua Portuguesa (1.ª edição, 2001) e Lições de Português pela Análise Sintática (18.ª edição, 2004).

Na ABL é coordenador da Comissão de Lexicologia e Lexicografia, tendo apresentado a 5ª edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, em sessão interacadémica na Academia das Ciências de Lisboa, em abril de 2009, no mesmo evento em que o presidente da AGLP, Montero Santalha, apresentou o Léxico da Galiza.

Na entrevista, realizada o 5 de outubro de 2009, o professor explica a orientação da ABL no sentido de considerar, já no primeiro artigo da sua constituição, em 1897, o facto de a língua portuguesa não ser só do Brasil, «de modo que a identidade brasileira estava na literatura, enquanto a língua era um instrumento de comunicação, de realização profissional e artística comum a Portugal e ao Brasil».

À pergunta do entrevistador sobre a previsão da elaboração do Vocabulário Comum, o professor indica que «o texto do Acordo de 1990 não fala de um vocabulário da chamada língua primária. O que o texto diz é que, depois que os signatários do Acordo de 90 trabalharam na unificação da ortografia, que essa unificação, na medida do possível, e tão completa quanto possível, chegasse à unificação da nomenclatura técnica e científica. O vocabulário comum tem de ser o léxico comum a essas nações». «O Acordo Ortográfico de 1990 fala unicamente da unificação do significante». «Agora, o significado, este, será tarefa dos dicionários».

Quanto à possibilidade de uma maior unificação ortográfica, julga ser impossível. «Se nós optarmos por atender à pronúncia, uma língua pode admitir variantes. Então, assim como os portugueses pronunciam António, e no Brasil pronunciamos Antônio, ou essas duas formas continuarão a ser usadas e escritas diferentemente, ou então adotaremos o seguinte: que nesses casos dos paroxítonos com vogais tónicas nasais, não seja assinalado o timbre da vogal.»

Evanildo Bechara participou no Seminário de Lexicologia da AGLP, em 5 de outubro, com a comunicação «Passos na implantação do Acordo Ortográfico no Brasil».

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